sábado, 23 de maio de 2009

Saudade (1).

É preocupante a realidade da igreja evangélica em nossos dias. Homens de Deus, nas mais diferentes denominações alçam suas vozes em pronunciamentos de alerta, porque o povo de Deus está perecendo por falta de conhecimento. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça; quem tem olhos para ver; veja.
Tudo isso que avassala a igreja entristece, porque a faz desviar-se do seu rumo e da sua missão principal; e não proporciona às ovelhas do Pai a qualidade de vida espiritual que poderiam usufruir.
Por isso, sinto saudade da igreja da minha infância – a Igreja Presbiteriana do Caju, no Rio de Janeiro. Lembro-me que meu pai estava acamado há meses com uma doença chamada herpes. Não saía da cama, sentia terríveis dores, estava sob tratamento e licença médica há meses. Um dia, José Maria de Andrade, que viria a ser meu tio, por casar-se com a irmã de minha mãe, crente presbiteriano, conseguiu autorização do meu pai para levar o Rev. Bolivar Ribeiro Pinto Bandeira para uma visita. Conversa vai e conversa vem o pastor fala de Jesus; pede permissão para orar, e mediante consentimento, ajoelha-se aos pés do leito e pede ao Senhor Jesus pela saúde do meu pai. Estabeleceu-se ali uma empatia por décadas. Meu pai solicita que minha mãe oferecesse café ao pastor, com pão e manteiga, costume carioca, porque era a hora do lanche. E o pastor Bolivar Bandeira aceita, sob a condição que meu pai fizesse um esforço e saísse do leito e fosse sentar-se à mesa com ele para o lanche frugal. E assim foi feito. Libertou-se do leito; começou o processo da cura física; e teve a alma libertada pela graça irresistível de Jesus. Aceitou o convite e prometeu que iria a igreja no domingo seguinte. E com a cabeça enfaixada e uma Bíblia sob o braço foi à IP do Caju; participou da Escola Dominical e do Culto matutino. Converteu-se. Nunca mais deixou o Senhor Jesus e a sua amada Igreja a quem serviu com dedicação, em várias funções eclesiásticas, até ao dia da sua morte repentina. Pregava nos hospitais e ao ar- livre; foi apedrejado na favela; testemunhava aos familiares; exerceu zelosamente diversos cargos na igreja local e no âmbito denominacional.
Por isso fui para a Igreja e lá aprendi as sagradas letras. Saudade da classe Samuel dirigida pela irmã Célia Caldeira, que sabia como motivar a conhecer a Bíblia e a amar a Jesus. Que saudade da União Presbiteriana de Crianças onde se aprendia a Palavra de Deus e o Catecismo Presbiteriano. Saudade do Esforço Cristão, departamento que reunia antes do culto noturno todas as organizações internas para o estudo bíblico. Lia-se a Bíblia, estudava-se a Palavra, saturava-se mente e coração com a verdade de Deus.
Foi lá, ouvindo Bolívar Bandeira, grande pregador, que entendi que deveria ir para o ministério. Em alguns domingos, periodicamente, o Rev. Bolivar visitava, casa por casa, os moradores da Rua Tavares Guerra, para falar-lhes de Jesus e convidá-los para as celebrações dominicais.
Que saudade! Éramos uma família. Aos sábados à tarde, brincadeiras e jogos de vôlei; ou, à noite, apresentações do teatro, ou programas culturais, recreativos ou de outro matiz. Piqueniques, visitas ao Orfanato Presbiteriano; ao SASE (Serviço de Assistência Social Evangélico). Por motivos circunstanciais fui morar com parentes, após o falecimento da minha mãe e deixei a comunidade da Igreja do Caju, voltando esporadicamente.
Saudade de uma época que marcou. Marcou pela presença de um pastor, que apesar de trabalhar secularmente, conhecia o seu rebanho; saudade de uma comunidade que vivia como família em comunhão; saudade de uma igreja que ensinava Bíblia e cumpria o “Ide” pregando nos hospitais para tuberculosos, Clemente Ferreira e São Sebastião; subindo às favelas; proclamando o evangelho nas casas e ao ar livre, todos os domingos, mostrando a graça salvadora de Jesus. E depois desta maratona, as uniões reuniam-se na igreja para as atividades peculiares. E depois, encerrando o domingo, o culto. Dominicalmente a Tavares Guerra via os crentes, indo e vindo, alegres e felizes pela consciência da Missão cumprida e do culto celebrado ao Eterno.

Escrito por Pr. Gilberto Mynssen Ferreira às 00h05
http://mynssenferreira.zip.net/arch2008-03-16_2008-03-22.html

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